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quinta-feira, 10 de junho de 2010

Anáhata, o chakra do coração

por João Paulo Pereira, Embaixador Zen People no Rio de Janeiro

A palavra chakra popularizou-se bastante em nossa cultura ocidental. Pouco se sabe, entretanto, sobre as características, simbolismos e funções desse conceito tão complexo. O termo sânscrito chakra significa, entre outras coisas, roda ou disco. Por exemplo, a roda de uma carruagem, ou ainda a arma do deus Vishnu, o sudarshana chakra, cuja forma é um disco com 108 pontas. Conceito de origem na tradição tântrica, chakra é um vórtice ou centro de energia sutil em nosso corpo energético (pránamayakosha), e são formados com o cruzamento de dois ou mais meridianos de energia (nádí).

No Yoga e no Tantra, são trabalhados os shat chakra, os seis principais centros situados ao longo da coluna vertebral. Além disso, há o sahásrara chakra, no topo da cabeça, conhecido como o chakra das mil pétalas. Por sua complexidade e importância, chega a nem ser considerado um chakra por alguns autores.

De baixo para cima, o quarto chakra na coluna é denominado coronário, por ter sua correspondência no corpo físico com o plexo cardíaco. Seu nome sânscrito é anáhata, termo que se traduz como "aquilo que não foi batido", em referência aos sons anáhata, sons para cuja produção nada foi "batido".

A importância deste chakra, associado ao elemento ar (váyu), está em sua estrita relação com nosso veículo emocional. Ele está ligado aos sentimentos de amor, compaixão, caridade e tolerância. Suas doze pétalas representam seus doze vrittis, ou flutuações mentais correspondentes: luxúria, fraude, indecisão, arrependimento, esperança, ansiedade, desejo, imparcialidade, arrogância, incompetência, faculdade discriminativa, desafio.

Uma importante válvula energética (Vishnu granthi) se encontra nele. Apenas o primeiro e o sexto chakra possuem-na também. Elas assumem um importante papel no processo de ascensão da energia da kundaliní, objetivo do Yoga e do Tantra. Ao mesmo tempo que dificultam o processo, como um dispositivo de segurança, impedem que ela, uma vez despertada, desca a um nível inferior ao seu próprio.

No shat chakra nirupana, escritura tântrica que disserta sobre os seis chakras, há uma alusão interessante. O anáhata é tido como uma kalpa-taru, uma das árvores celestiais do paraíso de Indra (espécie de Zeus na mitologia hindu). Neste simbolismo, a kalpa-taru confere aquilo que lhe é pedido, e ainda mais: confere moksha, a libertação do ciclo de nascimento e morte. Isso suscita uma reflexão oportuna: é exatamente no chakra que rege nossas emoções, regido pelo amor, onde encontramos aquela força que vai fazer acontecer. Em nossa tradição cristã, poderíamos dizer que lá reside a "fé que remove montanhas".

Várias práticas yogis desenvolvem o aháhata chakra. Um bom tipo de ásana para estimulá-lo é a retroflexão (extensão) da região dorsal da coluna. Por exemplo, bhujangásana, dhanurásana, ushtrásana, chakrásana, entre outros. A repetição do seu bíja mantra ou som semente, a sílaba YAM, pode ser associada à mentalização da cor verde esmeralda, em sua região (a vocalização deve ser aprendida pessoalmente com um professor ou mestre competente). Práticas devocionais como kirtan (cânticos) e pújá (oferenda) também atuam no anáhata. Na tão importante prática de Yoga "fora-do-seu-tapetinho", ele será fortalecido com a observância de santosha, que significa o contentamento, ou o cultivo de um coração tranquilo e feliz em todas as situações.

http://blog.joaopaulopereira.com/


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