Globo Online
22/02/2010
por Simone Intrator
Problemas na coluna podem ser evitados com a prática de atividades físicas
Cervical e lombar são regiões do corpo muito bem conhecidas por quem já passou dos 30. Simplesmente porque doem - ou todos os dias, ou dia sim, dia não. O médico de coluna Luiz Cláudio Schettino, da Clínica São Vicente na Gávea e professor de ortopedia da Faculdade de Medicina da UFRJ, explica que o grande vilão da coluna é o estilo de vida moderno, em que se tem uma rotina sedentária demais justamente quando a musculatura deveria estar sendo mais fortalecida. Nesta entrevista, ele explica como deve ser a posição em frente ao computador, quando se deve procurar um médico por causa das dores nas costas, as atividades físicas contraindicadas para quem tem problemas de coluna e muito mais. Confira.
O GLOBO: Por que todos os adultos sentem dores nas costas nos dias de hoje?
LUIZ CLÁUDIO SCHETTINO: Devido ao estilo de vida das pessoas, cada vez mais sedentário. As pessoas, depois de uma certa idade, tendem a abandonar a atividade física para se dedicarem mais ao trabalho. E é justamente nesta fase que mais se precisaria exercitar a musculatura, a principal aliada na prevenção às dores de coluna. A partir dos 30 anos, aumentam os riscos de se ter lesões de desgastes, que chamamos de degenerativas.
O GLOBO: Quem trabalha sentado, em frente ao computador, deve evitar quais posturas para prevenir as dores nas costas?
LUIZ CLÁUDIO SCHETTINO: A posição correta é com a lombar bem encostada na cadeira. Não pode escorregar e ter um apoio para os pés ajuda a evitar isso. Deve-se evitar ficar períodos muito extensos e contínuos em frente ao computador, porque isso força os discos, os maiores causadores das dores lombares. A pessoa deve levantar de 45 em 45 minutos e se alongar. A posição sentada é a que mais força a coluna lombar, mais até do que a posição em pé.
O GLOBO: Quando a pessoa deve procurar um médico por causa das suas dores nas costas?
LUIZ CLÁUDIO SCHETTINO: Em três diferentes situações. A primeira, se tiver uma dor muito forte que persista depois de 24 horas, mesmo a pessoa tendo repousado. A segunda, se passar a ter crises fortes com frequência. A terceira, se surgir outros sintomas chamados de sinais de alerta, como febre, perda da sensibilidade do pé, dificuldade de mexer a perna.
O GLOBO: Que alongamentos pode-se fazer em casa para amenizar/prevenir as dores nas costas?
LUIZ CLÁUDIO SCHETTINO: O relaxamento mais comum é o que a pessoa, deitada, dobra o joelho e abraça uma perna de cada vez.
O GLOBO: Em que posição devo dormir para não ter dores nas costas? Como deve ser o colchão?
LUIZ CLÁUDIO SCHETTINO: O colchão deve ser firme, de modo que não deforme. A posição ideal é a lateral, com os membros inferiores encolhidos, como na posição fetal ou semifetal. O travesseiro deve segurar o pescoço e por isso sua espessura será individual, para que a cabeça fique alinhada com o resto do corpo.
O GLOBO: Dores na região do pescoço têm a ver com problemas na coluna?
LUIZ CLÁUDIO SCHETTINO: Na grande maioria das vezes, sim, o problema é na cervical. É o mesmo processo que ocorre na lombar, as duas partes da coluna mais sacrificadas. Quem trabalha pendurado no telefone segundo o aparelho com o ombro prejudica muito a cervical. Quem trabalha em frente ao monitor, não pode ficar olhando para baixo. A telinha deve ficar em frente aos olhos.
O GLOBO: Que outros sintomas as dores nas costas podem causar?
LUIZ CLÁUDIO SCHETTINO: Algumas pessoas que sentem muita dor na cervical se queixam de dor na nuca. Às vezes também no globo ocular e na região auroicular. Há dores que irradiam para o braço e dores que irradiam para o ciático.
O GLOBO: Quais atividades físicas são indicadas para quem tem dor nas costas? E quais são contraindicadas?
LUIZ CLÁUDIO SCHETTINO: Quem tem dor nas costas deve evitar atividades físicas de alto impacto, de uso da força física, de flexão ou torção. E deve preferir a natação e outros exercícios dentro d'água e a musculação muito controlada.
O GLOBO: Quando é necessário operar?
LUIZ CLÁUDIO SCHETTINO: Quando o problema na cervical ou na lombar está comprometendo os nervos provocando perda de sensibilidade, perda da força. Ou quando a dor não dá trégua e não melhora com o tratamento clínico, que consiste em fisioterapia e medicamentos. Ou quando a dor é recorrente.
O GLOBO: Por que os tratamentos atuais demoram tanto para dar resultados? As pessoas parecem aliviadas, mas não curadas. Por quê?
LUIZ CLÁUDIO SCHETTINO: Porque na maioria das vezes os problemas não desaparecem. Quando você faz um tratamento clínico, não estará ganhando um disco novo. A maioria das pessoas aprende a conviver com a dor, mas não está curada.
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